Por Luis Miguel Modino
O momento atual pelo qual o Brasil está passando exige uma atitude profética da Igreja. Sendo essa uma missão de todos os batizados, as Pastorais Sociais tem essa dimensão como objetivo fundamental. Com esse propósito, se reuniram em Manaus, de 13 a 16 de junho, cerca de 70 representantes das nove circunscrições eclesiásticas que compõem o Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.
O seminário foi realizado coincidindo com a greve geral convocada em 14 de junho contra a Reforma da Previdência, que levou às ruas milhões de pessoas protestando contra as políticas do atual governo, que pretende realizar uma reforma que atenda aos interesses dos bancos e os donos do capital. Os participantes do encontro estiveram presentes na passeata no centro de Manaus, a qual diversas organizações da Igreja, entre elas a Caritas brasileira, aderiram. Não podemos esquecer que os próprios bispos já manifestaram sua oposição à reforma na nota lançada em sua última assembleia geral realizada em maio passado.
Falando sobre a importância das Pastorais Sociais na vida de Regional e da vida da Igreja, Dom Adolfo Zon, que coordena esta dimensão no Regional Norte 1, reconhece que “são fundamentais porque são mediações concretas para fazer visível, e sobretudo eficaz, o amor de Deus a todas as pessoas, sobretudo àqueles que sofrem mais necessidade”. O bispo de Alto Solimões lembra o que diz a encíclica Caritas in Veritate, “cada batizado, cada discípulo missionário de Jesus Cristo, é um canal da graça de Deus”.
A reunião partiu de uma análise da conjuntura social, política e econômica que o Brasil vive, uma preocupação crescente para grande parte da população, que desaprova a gestão do governo Bolsonaro, cuja popularidade e aceitação social é a mais baixa entre os últimos governos nos primeiros meses de sua administração. Dentro desse panorama, as Pastorais Sociais abordaram uma série de desafios que foram analisados sob diferentes perspectivas: segurança pública, educação, saúde, povos indígenas e socioambiental.
Daniel Seidel reconhece que “a Igreja do Brasil está enfrentando um momento de rearticulação, devido a todo um envolvimento que aconteceu nos governos anteriores de lideranças das pastorais sociais em políticas públicas, e que agora, infelizmente, estão sendo cada vez mais desmontadas”. O assessor da REPAM-Brasil e membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, afirma que “por isso, então, nós temos que retomar os espaços eclesiais que se tornaram bastante fechados na perspectiva de um engajamento maior da própria Igreja na área da transformação social”.
Os participantes do encontro abordaram aspectos específicos que fazem parte da vida da Pastoral Social, como o Grito dos Excluídos, que todo 7 de setembro, desde 1995, reúne movimentos eclesiais e sociais em torno de uma questão específica. Este ano, 2019, será “Este sistema não vale a pena!”, com uma clara referência ao crime Brumadinho, onde a mineradora Vale matou 240 pessoas e 32 desaparecidos, e provocou um desastre ambiental com consequências desastrosas, que vão permanecer durante dezenas de anos.
Outra questão também refletida foi a 6ª Semana Social Brasileira, aprovada na última assembleia geral da CNBB e sobre a qual estão sendo realizadas consultas em todo o país em busca do tema e da organização específica. A 1ª Semana Social Brasileira foi realizada em 1991 e sempre foi um momento de reflexão sobre as questões atuais. Segundo Jardel Neves, Presidente da Pastoral Operaria do Brasil, a celebração desta semana é “de grande importância para o momento presente”. De fato, os governos têm “medo de pessoas organizadas, porque as pessoas organizadas transformam a sociedade”. Nesse sentido, ele lembrou que “a Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos e a Palavra”, como lembrou Bento XVI em sua encíclica Deus Caritas Est.
Na mesma linha, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, ele reconhece que “as Pastorais Sociais são a forma concreta de nossa Igreja praticar a caridade, que é o maior mandamento que Jesus nos deixou”. O bispo da Prelazia de Itacoatiara, destaca a importância do encontro como “um momento para pensar juntos, avaliar e fazer a nossa previsão de ação daqui para frente para fortalecer ainda mais a presença da Igreja junto daquelas pessoas que mais precisam desse nosso amor solidário”.
O Sínodo para a Amazônia, que nesta segunda-feira apresenta seu Instrumentum Laboris, também esteve presente no seminário, sendo lembrado o processo realizado até agora, desde 15 de outubro de 2017, que foi convocado pelo Papa Francisco. Acima de tudo, destacou-se a importância do processo de escuta, do qual participaram as Pastorais Sociais, sempre preocupadas com muitos dos aspectos que estão sendo refletidos no processo sinodal.